Valor Econômico, Adriana Cotias, 13/jul
Abaixo do badalado mundo das "blue chips" brasileiras há um rol de ações de segunda e terceira linhas que combinam boa liquidez com valorizações explosivas neste ano. São cerca de uma dezena de papéis, que negociam mais de R$ 1 milhão ao dia, têm presença na maioria dos pregões e acumularam só no primeiro semestre ganhos superiores a 100%. Mas a lista traz exemplos gritantes, com variações que superam os 200%, caso das ordinárias (ON, com voto) da Aracruz, com 275%, ou da Agrenco, com 241%, ambos ligados a eventos bastante particulares - e até traumáticos. Na seleção feita pela Economática para o Valor, a consultoria procurou combinar rentabilidade e liquidez, duas importantes premissas consideradas pelo aplicador quando escolhe papéis para a carteira, diz Einar Rivero, autor do estudo. "São ações líquidas, com presença no mercado e que pelo menos dobraram o capital do investidor do início do ano para cá." Ele conta que no levantamento original 33 ações atendiam ao critério de retorno, mas muitas apresentavam liquidez desprezível, sendo cotadas dispersamente. Feito o filtro, sobraram, com Aracruz e Agrenco, 13 ações: as construtoras MRV, Rodobens, Rossi e Tenda, as companhias do complexo X de Eike Batista - LLX Logística, MMX Mineração e MPX Energia -, Fertilizantes Heringer e Açúcar Guarani, ligadas ao agronegócio, além de BicBanco e SulAmérica. Pelo tamanho das oscilações, tanto na baixa, quanto na alta, são ativos que carregam um risco intrínseco e o investidor deve avaliar as razões das valorizações, porque não há garantias de que esse desempenho vá adiante. Com exceção de Agrenco e Aracruz, em linhas gerais, são empresas que fizeram ofertas públicas iniciais (IPO, na sigla em inglês) recentes, com promessas de rápido crescimento, e que foram atropeladas pela crise antes de seus projetos de crescimento vingarem. Muito castigadas no ano passado, tiveram o valor rapidamente multiplicado ao garantirem fontes de capital para tocar suas atividades. Nos mais variados casos, a mãozinha do governo, com medidas anticíclicas ou com o financiamento público, é que mudou a trajetória de curto prazo desses papéis. Quando o Lehman Brothers quebrou, impondo um freio ao crédito global, as companhias dependentes de recursos de terceiros, seja para financiar o consumidor, seja para alavancar a própria operação, sentiram na carne o engessamento. "O valor de uma ação reflete os projetos de investimentos que uma companhia tem no futuro, mas quando o crédito desapareceu esses planos foram colocados em xeque", resume o professor de Finanças do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Ricardo José de Almeida. No setor de construção civil, as companhias voltadas para a baixa renda viram o seu castelo de cartas ruir quando a inadimplência começou a mostrar a cara. Daí faltou dinheiro novo para financiar os mutuários e os empreendimentos ainda no chão. Conforme descreve Almeida, na Tenda, a taxa de devolução de imóveis aumentou substancialmente e a construtora passou a ter problemas de caixa até ser incorporada pela Gafisa. No caso da Rossi, com 42% do seu banco de terrenos direcionado ao chamado segmento econômico, houve dúvidas sobre a capacidade de financiamento até a empresa emitir debêntures. O quadro só ficou menos incerto quando o governo detalhou o seu pacote de estímulo ao setor, com o Minha Casa, Minha Vida. "Lá atrás, o que estava embutido nas ações era um crescimento de vendas grande, mas, de repente, as companhias ficaram numa situação complicada para entregar os projetos", diz o gestor de Renda Variável da Nobel Asset Management, André Spolidoro. "Veio o pacto do governo, o crédito melhorou, houve emissão de debêntures e daí o mercado voltou a colocar no preço aquele modelo de negócio." O programa acabou tirando do limbo a MRV, considerada a companhia mais rentável nessa faixa de renda, e a Rodobens, que atua no interior, onde há demanda reprimida para imóveis de baixo custo, completa Almeida. No agronegócio, a Heringer repercutiu a falta de crédito em pleno período de plantio, avalia o gerente de análise da Modal Asset Management, Eduardo Roche. "Descapitalizado, o agricultor não priorizou fertilizantes e defensivos, mas a perspectiva tende a ser melhor para a próxima safra", diz. Diferentemente de Fosfertil, que tem suas ações nas mãos de investidores locais, a empresa seguiu a dinâmica dos demais IPOs brasileiros, ficou mais exposta ao capital externo e teve de conviver com a sua natureza volátil. Tal concentração - entre 2004 e 2007, o investidor estrangeiro ficava com fatias entre 60% e 90% dos IPO -, fez com que as novatas ficassem com descontos extremos quando houve a reversão do fluxo. "Muitos desses casos eram ligados a histórias de crescimento, e o crédito era a chave para turbiná-los." Essa dinâmica valia para a construção civil, para o setor financeiro, caso do BicBanco, e mesmo para os ambiciosos planos empresariais de Eike Batista. "O investidor comprou projetos de maturação de longo prazo, mas quando o mercado não conseguia enxergar um palmo à frente, o risco de execução aumentou." Açúcar Guarani é outro exemplo entre as "small caps" novatas que perdeu e ganhou valor rapidamente. Para Spolidoro, a alta do açúcar no mercado internacional - segmento do qual a companhia extrai 85% das suas receitas - tem sido uma das alavancas na bolsa. Almeida também lembra que a empresa recebeu um aporte de capital da controladora francesa Tereos, que equalizou seus problemas temporários de caixa. O BicBanco, junto com outros bancos médios, voltou a atrair investidores após a regulamentação dos depósitos a prazo com garantia especial (DPGE). A SulAmérica, por fim, balançou com as dificuldades do sócio holandês ING. É, entretanto, o único papel da lista com desempenho em linha com o Ibovespa em 2008 (-41,2%) e neste ano mais do que dobrou de preço, resultando em lucros efetivos para o investidor de longo prazo.
Abaixo do badalado mundo das "blue chips" brasileiras há um rol de ações de segunda e terceira linhas que combinam boa liquidez com valorizações explosivas neste ano. São cerca de uma dezena de papéis, que negociam mais de R$ 1 milhão ao dia, têm presença na maioria dos pregões e acumularam só no primeiro semestre ganhos superiores a 100%. Mas a lista traz exemplos gritantes, com variações que superam os 200%, caso das ordinárias (ON, com voto) da Aracruz, com 275%, ou da Agrenco, com 241%, ambos ligados a eventos bastante particulares - e até traumáticos. Na seleção feita pela Economática para o Valor, a consultoria procurou combinar rentabilidade e liquidez, duas importantes premissas consideradas pelo aplicador quando escolhe papéis para a carteira, diz Einar Rivero, autor do estudo. "São ações líquidas, com presença no mercado e que pelo menos dobraram o capital do investidor do início do ano para cá." Ele conta que no levantamento original 33 ações atendiam ao critério de retorno, mas muitas apresentavam liquidez desprezível, sendo cotadas dispersamente. Feito o filtro, sobraram, com Aracruz e Agrenco, 13 ações: as construtoras MRV, Rodobens, Rossi e Tenda, as companhias do complexo X de Eike Batista - LLX Logística, MMX Mineração e MPX Energia -, Fertilizantes Heringer e Açúcar Guarani, ligadas ao agronegócio, além de BicBanco e SulAmérica. Pelo tamanho das oscilações, tanto na baixa, quanto na alta, são ativos que carregam um risco intrínseco e o investidor deve avaliar as razões das valorizações, porque não há garantias de que esse desempenho vá adiante. Com exceção de Agrenco e Aracruz, em linhas gerais, são empresas que fizeram ofertas públicas iniciais (IPO, na sigla em inglês) recentes, com promessas de rápido crescimento, e que foram atropeladas pela crise antes de seus projetos de crescimento vingarem. Muito castigadas no ano passado, tiveram o valor rapidamente multiplicado ao garantirem fontes de capital para tocar suas atividades. Nos mais variados casos, a mãozinha do governo, com medidas anticíclicas ou com o financiamento público, é que mudou a trajetória de curto prazo desses papéis. Quando o Lehman Brothers quebrou, impondo um freio ao crédito global, as companhias dependentes de recursos de terceiros, seja para financiar o consumidor, seja para alavancar a própria operação, sentiram na carne o engessamento. "O valor de uma ação reflete os projetos de investimentos que uma companhia tem no futuro, mas quando o crédito desapareceu esses planos foram colocados em xeque", resume o professor de Finanças do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Ricardo José de Almeida. No setor de construção civil, as companhias voltadas para a baixa renda viram o seu castelo de cartas ruir quando a inadimplência começou a mostrar a cara. Daí faltou dinheiro novo para financiar os mutuários e os empreendimentos ainda no chão. Conforme descreve Almeida, na Tenda, a taxa de devolução de imóveis aumentou substancialmente e a construtora passou a ter problemas de caixa até ser incorporada pela Gafisa. No caso da Rossi, com 42% do seu banco de terrenos direcionado ao chamado segmento econômico, houve dúvidas sobre a capacidade de financiamento até a empresa emitir debêntures. O quadro só ficou menos incerto quando o governo detalhou o seu pacote de estímulo ao setor, com o Minha Casa, Minha Vida. "Lá atrás, o que estava embutido nas ações era um crescimento de vendas grande, mas, de repente, as companhias ficaram numa situação complicada para entregar os projetos", diz o gestor de Renda Variável da Nobel Asset Management, André Spolidoro. "Veio o pacto do governo, o crédito melhorou, houve emissão de debêntures e daí o mercado voltou a colocar no preço aquele modelo de negócio." O programa acabou tirando do limbo a MRV, considerada a companhia mais rentável nessa faixa de renda, e a Rodobens, que atua no interior, onde há demanda reprimida para imóveis de baixo custo, completa Almeida. No agronegócio, a Heringer repercutiu a falta de crédito em pleno período de plantio, avalia o gerente de análise da Modal Asset Management, Eduardo Roche. "Descapitalizado, o agricultor não priorizou fertilizantes e defensivos, mas a perspectiva tende a ser melhor para a próxima safra", diz. Diferentemente de Fosfertil, que tem suas ações nas mãos de investidores locais, a empresa seguiu a dinâmica dos demais IPOs brasileiros, ficou mais exposta ao capital externo e teve de conviver com a sua natureza volátil. Tal concentração - entre 2004 e 2007, o investidor estrangeiro ficava com fatias entre 60% e 90% dos IPO -, fez com que as novatas ficassem com descontos extremos quando houve a reversão do fluxo. "Muitos desses casos eram ligados a histórias de crescimento, e o crédito era a chave para turbiná-los." Essa dinâmica valia para a construção civil, para o setor financeiro, caso do BicBanco, e mesmo para os ambiciosos planos empresariais de Eike Batista. "O investidor comprou projetos de maturação de longo prazo, mas quando o mercado não conseguia enxergar um palmo à frente, o risco de execução aumentou." Açúcar Guarani é outro exemplo entre as "small caps" novatas que perdeu e ganhou valor rapidamente. Para Spolidoro, a alta do açúcar no mercado internacional - segmento do qual a companhia extrai 85% das suas receitas - tem sido uma das alavancas na bolsa. Almeida também lembra que a empresa recebeu um aporte de capital da controladora francesa Tereos, que equalizou seus problemas temporários de caixa. O BicBanco, junto com outros bancos médios, voltou a atrair investidores após a regulamentação dos depósitos a prazo com garantia especial (DPGE). A SulAmérica, por fim, balançou com as dificuldades do sócio holandês ING. É, entretanto, o único papel da lista com desempenho em linha com o Ibovespa em 2008 (-41,2%) e neste ano mais do que dobrou de preço, resultando em lucros efetivos para o investidor de longo prazo.
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